O DESAFIO DA ESTENOSE INTRACRANIANA: PARTE 1

Dr.  Alexandre Drayton Maia Barros
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (1998). Tem formação em Radiodiagnóstico e Imagem Médica pelas Universidades Paris VI e Lille II, na França (2001-2005). Especialista em Neurorradiologia pela Univesité Pierre et Marie Curie. (2003-2005). Especialista em Angiorradiologia e Radiologia Intervencionista pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (2004). Coordenador da Neurorradiologia Intervencionista do Instituto Cardiopulmonar, em Salvador, onde atua ainda em outros 5 hospitais.


INTRODUÇÃO

As doenças cerebrovasculares (DCV) constituem um grave problema de saúde pública, particularmente em países em desenvolvimento, onde os recursos disponíveis para o cuidado de populações com expectativa de vida crescente são cada vez mais escassos. Tal grupo de doenças é acompanhado de morbidade significativa, implicando diretamente na capacidade produtiva e qualidade de vida dos indivíduos afetados. Portanto, as conseqüências sociais e econômicas das DCV são potencialmente devastadoras.

A estenose de grandes artérias intracranianas (EI) representa uma causa importante e freqüentemente não reconhecida de DCV, especialmente em negros, asiáticos e hispânicos [1-9]. Estima-se que aproximadamente 5% a 10% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) isquêmicos são decorrentes de EI de causa aterosclerótica [10-15]. Nas séries asiáticas essa prevalência é ainda maior, da ordem de 33% a 46%. Aquele grupo de pacientes com EI sintomática requer atenção especial, pois alberga alto risco de eventos vasculares futuros: cerca de 38% em 2 anos, no mesmo território da artéria estenosada; o risco geral de recorrência do AVC é da ordem de 17% ao ano [16-24].

Não seria, por conseguinte, demasiado dizer que a EI é talvez uma das principais e mais preocupantes causas de AVCI no mundo; no entanto, em virtude do foco diagnóstico e do já vasto conhecimento de que dispomos em relação às patologias extra-cranianas, negligenciamos tal fato. Ademais, a literatura nacional e latino-americana carece de dados estatísticos e epidemiológicos sobre esse tema; assim e erroneamente, o diagnóstico de EI muitas vezes não é evocado.

Neste panorama, a identificação da EI, a determinação dos seus fatores de risco e daqueles predisponentes à recorrência de AVC isquêmico (AVCI) tornam-se muito importantes. Faz-se mister um estudo de sua prevalência em nosso meio, que possibilite não somente aumentar o nosso grau de suspeição, como também, e em última análise, contribua para a diminuição do número de AVCIs nessa população.

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