O AVC e o papel do Neurorradiologista

Luciano Farage, Neurorradiologista e Professor Universitário em Brasília, Doutor em Ciências Médicas pela FM/ UnB, Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia (SBNR)
Felipe Torres Pacheco, Neurorradiologista em São Paulo, Doutor em Ciências pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Presidente da SBNR (2025-2026)

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no Brasil. Estima-se que cerca de 2,23 milhões de brasileiros já tenham sofrido um AVC, sendo 568 mil com incapacidade grave. Em 2023, o país registrou mais de 105 mil óbitos por AVC, segundo o DATASUS, representando uma das maiores causas isoladas de mortalidade cardiovascular. Apesar da queda significativa das taxas padronizadas de mortalidade nas últimas décadas (redução de cerca de 58% entre 1990 e 2019), o número absoluto de casos e mortes permanece elevado devido ao envelhecimento populacional e à persistência de fatores de risco, como hipertensão e diabetes.

A maioria dos óbitos ocorre em pessoas com 80 anos ou mais, e há desigualdades regionais — a região Sudeste concentra quase 40% das mortes. Observa-se também um aumento relativo de casos em pessoas mais jovens, refletindo mudanças no perfil de risco e estilo de vida. Cerca de 40% dos sobreviventes permanecem com algum grau de incapacidade funcional, reforçando o enorme impacto do AVC na saúde pública brasileira, tanto em mortalidade quanto em carga de sequelas e custos socioeconômicos.

O AVC pode ser subdividido em formas isquêmicas e hemorrágicas, com diferentes alternativas para tratamentos clínicos e cirúrgicos minimamente invasivos. O neurorradiologista age em vários destes momentos, exercendo papel central no diagnóstico do evento, no qual a qualidade e a agilidade é fundamental para o início do tratamento.

Os exames de imagem, através da tomografia computadorizada e ressonância magnética do encéfalo têm permitido seu diagnóstico precoce e assertivo, além de possibilitar, em alguns casos, a extensão do tempo para início de tratamento e um melhor entendimento da fisiopatologia, causas e da dinâmica das doenças.
No lado do tratamento, a neurorradiologia, através das intervenções endovasculares, permitem a desobstrução dos vasos ocluídos (trombectomia mecânica), com a colocação de dispositivos endoluminais (stent), quando se trata de uma causa isquêmica. Por sua vez, quando se trata de um AVC hemorrágico, permite a correção da causa do sangramento intracraniano, usualmente devido malformações vasculares, como aneurismas ou malformações arteriovenosas.

A Sociedade Brasileira de Neurorradiologia (SBNR) é a representante dos neurorradiologistas dentro do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), atuando na captação e formação destes profissionais em centros que são distribuídos por todas as regiões do nosso país, os quais podem ser oriundos de três especialidades – radiologia e diagnóstico por imagem, neurologia ou neurocirurgia.

A SBNR atuou na força tarefa que possibilitou a liberação no SUS da técnica de trombectomia mecânica e o registro dos primeiros centros para implementação. Isso significou a extensão a população dependente do sistema público o acesso as técnicas mais modernas.

Ainda há muito a fazer como política publica para redução da doença: Prevenção da hipertensão e diabetes, educação da população no reconhecimento precoce do AVC e ampliação do acesso ao diagnóstico, tratamento e reabilitação dos afetados.

No diagnóstico é necessário investimento público e privado em equipamentos mais modernos de tomografia computadorizada e ressonância magnética, mais rápidos, eficientes e com uso de tecnologias de inteligência artificial na aquisição das imagens e no pós-processamento semi-automatizados e supervisionado por profissional habilitado. O tratamento depende da disponibilidade de equipamentos de angiografia e dispositivos endovasculares em quantidade e qualidade para atender um maior número de pacientes.

A SBNR seguirá apoiando e cobrando as iniciativas públicas e privadas de formação de recursos humanos em número e qualidade, sempre certificados e apoiados, a fim de prover uma melhor assistência aos pacientes com AVC.