Caso da Semana – 13 de outubro de 2021

Autores:
Artur Ramos Sarmet dos Santos e Fernando Barros de Oliveira

Complexo hospitalar de Niterói – DASA RJ

Paciente feminina, 51 anos, hipertensa e diabética com diagnóstico de COVID-19 há 14 dias. Refere cefaléia associada a dor progressiva e formigamento na hemiface esquerda há 7 dias. Ao exame físico apresenta discreta proptose ocular e ptose à esquerda. Os exames laboratoriais demonstraram leucocitose.

TC axial da órbita com janela de partes moles (A) mostrando obliteração de células etmoidais (seta vermelha), proptose (*) e densificação com realce pós contraste gordura intraconal esquerda (seta amarela), bem como densificação nas partes moles peri-orbitais (seta azul). TC axial da órbita com janela óssea (B) demonstrando espessamento mucoso e velamento parcial do seio maxilar esquerdo e discretas erosões ósseas da sua parede medial (setas amarela). RM axial em T2 (C) e coronal STIR (D) evidenciando também o espessamento mucoso, com áreas hipointensas de permeio, nível líquido e conteúdo heterogêneo no seio maxilar esquerdo (seta amarela). RM axial T1 pós contraste (E) mostrando a mucosa desvitalizada sem realce pelo meio de contraste (seta amarela). RM axial T1 pós contraste apresentando pequena coleção irregular no cone orbitário esquerdo (seta amarela).

Mucormicose em paciente com COVID-19 e diabetes mellitus.

  • Infecção fúngica angioinvasiva, de alta mortalidade, causada por uma variedade da ordem Mucorales, Rhizopus e Absidia.
  • Fatores de risco: diabetes mellitus, uso de drogas venosas e alcoolismo crônico.
  • Na atual pandemia foram relatados casos de mucormicose neos pacientes com COVID-19.
  • O fungo geralmente atinge de forma direta os seios paranasais e dissemina-se à órbita e pode atingir as meninges e o parênquima cerebral, particularmente os lobos frontais.

Apresentação clínica:

  • Cefaléia, sinusite, febre, dor facial, dormência, celulite periorbitária unilateral e/ou proptose ocular.
  • Pacientes diabéticos mal controlados e/ou imunossuprimidos.
  • Os exames laboratoriais são limitados devido a que o fungo raramente é isolado no sangue ou no líquor.
  • Diagnóstico definitivo através de biópsia.

Aspectos de imagem

  • Espessamento mucoso mucoso nos seios paranasais, heterogêneo, com focos gasosos e nível hidroaéreo associados, apresentando sinal variável nas sequências T1 e T2,notando-se áreas hipointensas em T2 relacionadas aos elementos fúngicos e sinal elevado em DWI.
  • Sinal da concha preta: mucosa desvitalizada da cavidade nasal sem realce pelo meio de contraste.
  • Áreas de hipersinal em T2 e focos com realce anelar pelo contrastenas regiões frontobasais.
  • Espessamento e realce meníngeo na região frontal.

Principais diagnósticos diferenciais:

  • Celulite orbitária por outras etiologias: os aspectos de imagem são semelhantes aos encontrados na mucormicose.
  • Trombose venosa / seio cavernoso: falhas de enchimento nos seios durais / cavernosos na fase venosa.
  • Tumor: lesão expansiva/infiltrativa intra-orbitária, com intensidade de sinal e realce variável, geralmente indolor e de curso indolente.

Tratamento:

  • Reversão da imunossupressão.
  • Antifúngico sistêmico: Anfotericina B.
  • Desbridamento cirúrgico.

Leitura recomendada:

  • Freddi T., de Godoy L.L., Goncalves F.G., Alves C.A., Hanagandi P. (2019) Fungal and Parasitic Infections. In: Barkhof F., Jager R., Thurnher M., Rovira Cañellas A. (eds) Clinical Neuroradiology. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-61423-6_47-1
  • Safder S, Carpenter JS, Roberts TD, Bailey N. The “Black Turbinate” sign: An early MR imaging finding of nasal mucormycosis. AJNR Am J Neuroradiol. 2010 Apr;31(4):771-4. doi: 10.3174/ajnr.A1808. Epub 2009 Nov 26. PMID: 19942703; PMCID: PMC7964235.
  • Shakir M, Maan MHA, Waheed SMucormycosis in a patient with COVID-19 with uncontrolled diabetesBMJ Case Reports CP 2021;14:e245343.

Uma prévia do próximo caso:

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